SOBRE O CRIADOR
Criador
On-line: A quanto tempo você cria a raça Dogue Brasileiro?
Daniel Tambelini: Adquiri o primeiro exemplar
em 2002. No final de 2004 homologamos o canil Yacarepaua e tivemos
a primeira ninhada em janeiro de 2005.
Criador On-line:
O que o influenciou na escolha desta raça?
Daniel Tambelini: Ao mudar para
uma nova casa, procurei por uma raça boa para guarda. Após
muitas pesquisas na internet e conversa com criadores, optei pelo
Dogue Brasileiro. Primeiro porque é a única raça
que é obrigatório a avaliação de temperamento
para homologar títulos de campeão, o que garante
sua índole para a guarda. Segundo porque é uma raça
brasileira e, de alguma forma, estaríamos contribuindo
com a cinofilia nacional. Depois de notar sua beleza e capacidade
de trabalho, me empolguei em iniciar a criação.
Criador On-line:
Você mantém a criação como atividade
principal, secundário ou hobby?
Daniel Tambelini: Mantenho a criação
como um hobby mas com seriedade.
Criador On-line:
Você exporta ou importa cães?
Daniel Tambelini: Não exportamos, ainda,
e propositadamente não temos pressa nisso. A raça
ainda não é reconhecida pela FCI e o nosso desejo
não é apenas exportar cães, mas também
a filosofia por trás da raça. Não há
criação desta raça fora do Brasil.
Criador On-line:
Você participa ou já participou de exposições
cinófilas? (Se deixou de participar informe os motivos)
Daniel Tambelini: Nossa primeira participação
começou meio que por acaso em 2004, motivado por uma amiga.
Desde então, já participamos de diversas exposições,
inclusive fora do Rio de Janeiro. Inicialmente, para divulgação
da raça e conforme nossos cães começavam
a obter certificados, fomos adiante.
Criador On-line:
Você tem cães premiados? Se sim, cite alguns títulos
obtidos?
Daniel Tambelini: Temos um macho Campeão
e Campeão Pan-americano. E mais um macho e uma fêmea
Jovens Campeões. O Squach foi o melhor macho e ficou em
segundo lugar da raça em 2004 no ranking da CBKC. Com ele,
já obtivemos a pontuação para Grande Campeonato,
porém ainda não fizemos a avaliação
de temperamento para Grande Campeão, que é obrigatória
para homologação deste título. Conseguimos
vários títulos de melhor da raça, ótimas
colocações no grupo 11 e um quarto lugar no Best
in show, porém damos mais importância ao título
de apreciação de caráter do que o de beleza
na avaliação do pedigree.
Criador On-line:
Você acha que o árbitro cinófilo brasileiro
tem qualificação suficiente para julgar os cães?
Daniel Tambelini: No geral sim, porém
poucos conhecem o padrão do Dogue Brasileiro, o que nos
prejudica nas disputas de grupo.
Criador On-line:
Como é seu relacionamento com outros criadores? Há
troca de informações?
Daniel Tambelini: Nosso relacionamento com outros
criadores é excelente. A troca de informação
é freqüente e procuramos difundir qualquer notícia
sobre a raça através de correio eletrônico
e encontros. Conhecemos praticamente todos os proprietários
do Rio de Janeiro, por exemplo. Em abril de 2005, estivemos, eu
e meu sócio, em Caxias do Sul, berço do Dogue Brasileiro,
num simpósio sobre a raça realizado pelo árbitro
e cinófilo Pedro Ribeiro Dantas, primeiro criador da raça.
Tivemos a oportunidade de conviver com diversos exemplares e com
outros criadores do sul do Brasil. Documentamos tudo para passar
para os criadores aqui do Rio de Janeiro. Já está
previsto outro simpósio para 2006.
Criador On-line:
Quais as maiores dificuldades que você tem encontrado durante
todo o período que cria?
Daniel Tambelini: A maior dificuldade que encontramos
é a falta de conhecimento da raça e a confusão
que fazem entre o Dogue Brasileiro e outras raças, classificadas,
injustamente, como perigosas. Porém, todos os proprietários
estão super felizes com seus cães e não tivemos
nenhum caso de acidente grave causado por algum exemplar.
Criador On-line:
Você cria outras raças além do Dogue Brasileiro?
Daniel Tambelini: Criamos, exclusivamente, Dogue
Brasileiro.
SOBRE A RAÇA
Criador On-line:
Quando teve início a criação desta raça
no Brasil?
Daniel Tambelini: Os primeiros exemplares surgiram
em 1978 através do cruzamento de uma fêmea de boxer
com um bull terrier. Através da observação
e da seleção, considerando-se morfologia e temperamento,
foi-se formando a raça. Houve inserção de
american staffordshire terrier, o que gerou maior variabilidade
genética. No início da década de 80, a raça
foi reconhecida pelo CBKC.
Criador On-line:
Cite de forma resumida o padrão oficial da raça.
Daniel Tambelini:
• ASPECTO GERAL: Cão de aspecto sólido maciço
e não esgalgado, sem parecer, no entanto, atarracado ou desproporcionalmente
pesado. Ágil e forte, com músculos muito fortes longos
e marcados, dando a impressão de grande potência e
impulsão. Ossos fortes.
• REGIÃO CRANIANA: Crânio: crânio relativamente
largo; Stop: leve, visto de perfil ou de frente.
• MOVIMENTAÇÃO: deve ser fluente, com força
e agilidade. As patas devem se mover paralelamente com boa flexão
nas patas e joelhos.
• PELAGEM: curta, densa, luzidia e áspera.
COR: Qualquer cor, variação ou combinação
de cores são aceitas sem qualquer restrição.
• TALHE: Altura: machos, de 54 a 59 cm (preferencialmente,
57 cm); fêmeas: de 50 a 57 cm (preferencialmente, 55 cm).
• PESO: machos, de 29 a 42 kg (preferencialmente, 38 kg);
fêmeas: de 23 a 37 kg
(preferencialmente, 31 kg).
• TÍTULO DE CAMPEÃO: Somente poderá obter
o título de campeão, os machos e fêmeas aprovados
na apreciação do caráter, onde deverão
obrigatoriamente demonstrar coragem e, principalmente, controle.
Os cães considerados atípicos, por falta de iniciativa
ou considerados perigosos não poderão obter tal distinção.
Criador On-line: Cite alguns pontos positivos e negativos desta
raça.
Daniel Tambelini:
• POSITIVOS – docilidade e companheirismo com os membros
da família, fácil adestramento, resistência
à doenças e excelente trabalho de guarda.
• NEGATIVOS – propensão, controlada, à
baixa tolerância com outros cães do mesmo sexo e porte
e semelhança com algumas raças classificadas, repito,
injustamente, como perigosas.
TEMPERAMENTO DA RAÇA
Criador On-line:
Qual é temperamento e o nível de atividade do Dogue
Brasileiro?
Daniel Tambelini: Cão de atividade média,
atento e observador, de expressão séria para estranhos
e meiga para com o dono. Equilibrado, apto à disciplina,
porém destemido quando provocado ou sob comando.
Criador On-line:
Como se comporta o cão macho e fêmea em relação
aos seus filhotes?
Daniel Tambelini: As fêmeas costumam ser
excelentes mães e os machos toleram bem a ninhada.
Criador On-line:
Como se comporta o cão em relação a crianças
e pessoas que não são da família?
Daniel Tambelini: Com meus três filhos
a convivência é muito boa, embora sejam cães
muito fortes, sabem controlar sua força durante as brincadeiras.
É claro que com pessoas estranhas, vai depender de um bom
e recomendado trabalho de socialização, o que deve
ser feito com qualquer raça. No geral, suportam bem a presença
de pessoas que não são da família quando
na companhia dos donos. Na minha casa, amigos, familiares, minha
empregada e faxineira circulam tranqüilamente pelo quintal.
Criador On-line:
Como é a convivência do Dogue Brasileiro com outros
animais?
Daniel Tambelini: Agem como outros cães.
Se socializados desde filhotes, não há problema.
SAÚDE
Criador On-line:
Quais são as principais doenças do Dogue Brasileiro,
especificamente?
Daniel Tambelini: São cães bem
rústicos. Não adoecem com facilidade, independente
das condições em que vivem. Vale ressaltar que ainda
não houve nenhum caso de displasia entre as centenas de
exemplares.
Criador On-line:
Quais são os cuidados básicos que os proprietários
de cães desta raça devem ter com eles animais?
Daniel Tambelini: Boa alimentação,
vacinação em dia e muito carinho. Adestramento básico
é recomendável.
Criador On-line:
Em termos de alimentação, o que é melhor
ser oferecido ao animal?
Daniel Tambelini: Basicamente, ração
de boa qualidade e na quantidade certa. Frutas não-cítricas,
legumes e ossos também fazem bem.
Criador On-line:
Esta raça deve fazer atividades físicas com freqüência
ou não e necessário?
Daniel Tambelini: Para quem mora em casa com
um quintal médio, não há necessidade de exercitar
o animal. Pelo seu porte físico e capacidade atlética,
é uma ótima raça para esportistas. Para os
que vivem em pequenos espaços, é importante caminhada
diária. Apesar de que sou contra cães de grande
porte em apartamentos, por exemplo.
SOBRE A CINOFILIA
Criador On-line:
Como é a criação do Dogue Brasileiro no Brasil?
Daniel Tambelini: Ainda é muito restrita.
Os maiores criadores encontram-se em Caxias do Sul e em Mato Grosso
do Sul, nesta ordem. No estado do Rio de Janeiro há três
criadores e alguns proprietários. Também há
criadores na Bahia, Fortaleza e algumas pequenas cidades. Podemos
considerar o Dogue Brasileiro como uma raça rara no Brasil.
Criador On-line:
Na sua opinião as exposições de cães
contribuem de fato para o aprimoramento das raças?
Daniel Tambelini: Talvez, contribua mais para
as raças exclusivamente de companhia ou para aquelas nas
quais a beleza é fundamental. A falta das provas de temperamento
ajudou na deterioração da índole de algumas
raças, sejam elas para guarda, caça ou pastoreio.
Algumas raças também sofreram alterações
sofríveis na sua morfologia.
Criador On-line:
Geralmente o cão mais premiado é o que acaba reproduzindo
mais. Na sua opinião os árbitros de exposições
têm condições de avaliar o melhor cão
de cada raça para que a seleção genética
possa ocorrer?
Daniel Tambelini: Provavelmente, apenas no aspecto
morfológico.
Criador On-line:
O que você acha do uso de aparelhos ortodônticos para
corrigir os problemas de mordedura em cães que participam
de exposições e que são usados na reprodução?
Daniel Tambelini: Não aprovo artifícios
com esse propósito. Acho que isso só traz malefício
para o plantel, para seus descendentes e para os futuros interessados
em iniciar uma criação de boa qualidade.
Criador On-line:
Você acha que o criador brasileiro possui conhecimento suficiente
a respeito dos cães de raça e do Dogue Brasileiro
especificamente?
Daniel Tambelini: Conforme já citamos,
a união dos criadores do Dogue Brasileiro, a troca de informações
freqüentes com os criadores mais experientes e o nosso empenho
na manutenção da qualidade da raça, têm
contribuído muito com o conhecimento a respeito da raça.
Acho que o mesmo deve ocorrer entre os criadores sérios
de outras raças.
Criador On-line:
O consumidor brasileiro sabe reconhecer as qualidades e defeitos
na criação de cães identificando o bom e
o mau criador?
Daniel Tambelini: Não. E as entidades
competentes também não ajudam em nada. O consumidor
brasileiro é freqüentemente enganado e muito mal informado.
Não há mais fiscalização de ninhadas
e apenas pequenos grupos ainda se preocupam com a manutenção
das características psicológicas das raças
que criam.
Criador On-line:
O que você acha que deveria ser feito para conscientizar
os criadores de que a qualidade é fundamental para o sucesso
da criação de cães de raça no Brasil?
Daniel Tambelini: Muito trabalho das entidades
competentes. Mais palestras e simpósios com a participação
de associação de criadores, adestradores sérios
e médicos veterinários.
Criador On-line:
Como funciona o adestramento do Dogue Brasileiro? Você mesmo
adestra seus Cães?
Daniel Tambelini: O adestramento básico
é o mesmo feito com outras raças. O adestramento
para a guarda tem um conceito bem formatado e caracterizado para
a raça, onde o cão é bastante exigido onde
deve-se ter o cuidado em não viciar o cão em manga,
mas sim focá-lo em quem ameaça seu dono, seu lar
ou a ele mesmo. De preferência este treinamento deve ser
iniciado desde cedo, respeitando-se, é claro, a maturidade
do cão. Eu sempre participo do adestramento de meus cães.
Criador On-line:
O que você acha do modismo na cinofilia (criadores que criam
determinadas raças enquanto elas são populares e
depois as substituem por outra)?
Daniel Tambelini: Isso é abominável.
Tira todo o sentido da criação séria, apenas
um lucro passageiro. Além do mais, isso contribui com o
aumento de cães rejeitados e abandonados em instituições
que estão cada vez mais abarrotadas de cães infelizes.
Criador On-line:
Você acha que a CBKC e CLUBES dão aos criadores informações
e auxílio necessário para que haja de fato o aprimoramento
das raças?
Daniel Tambelini: Apenas alguns clubes, sim.
O Bull Boxer Clube – Clube do Dogue Brasileiro – está
de portas abertas para os interessados.
Criador On-line:
Os criadores de Dogue Brasileiro no Brasil, de um modo geral,
visam o aprimoramento da raça ou simplesmente "fabricam"
filhotes tendo em vista somente o lucro? O que pensa a esse respeito?
Daniel Tambelini: Certamente o aprimoramento
da raça. Principalmente porque nós criamos Dogue
Brasileiro por um ideal. Não há como ser diferente,
até porque não há mercado para fabricação
de dogues brasileiros. Não temos lucro, mas muito prazer.
Criador On-line:
Você acha que a criação nacional do Dogue
Brasileiro, como um todo, é boa? A importação
de novos exemplares ainda se faz necessária?
Daniel Tambelini: A criação ainda
é pequena em termos de crescimento e número de criadores.
Para aumentarmos a variabilidade, procuramos “importar”
bons exemplares de outros Estados do Brasil. A relação
de amizade, camaradagem e contribuição para a qualidade
da raça são muito prazerosas.
Criador On-line:
O que acha da reprodução indiscriminada, sem critérios,
feita por criadores ou proprietários que desconsideram
o padrão da raça?
Daniel Tambelini: Sou terminantemente contra.
A quantidade de cães descaracterizados à venda por
criadores de fundo de quintal, petshops e feiras de filhotes é
extrema. Sofrem os consumidores e os próprios animais que
acabam rejeitados, desrespeitados.
Criador On-line:
O que você pensa dos fabricantes de rações
para cães no Brasil?
Daniel Tambelini: Acho que a qualidade tem melhorado.
Inclusive, já há rações específicas
para algumas raças, o que sugere um bom trabalho de pesquisa.
Já podemos perceber a preocupação de alguns
fabricantes em utilizar boa matéria-prima e estabilizar
a formulação. Só falta o governo diminuir
os impostos possibilitando mais fôlegos aos fabricantes
e garantindo que mais de cães se alimentem de forma balanceada,
garantindo uma boa saúde.
Criador On-line:
Você acha que os criadores brasileiros deveriam contribuir
para entidades que abrigam cães de rua, evitando-se assim
que os animais sofressem abandonados pelas ruas?
Daniel Tambelini: Acho que os criadores brasileiros
deveriam programar as coberturas de acordo com a demanda, mas
primando pela qualidade. Acho que deveria haver um trabalho de
conscientização da população em relação
a castração de seus cães de companhia ou
portadores de doenças transmitidas geneticamente. Pagamos
para os Kenneis Clubes taxas para registrar títulos e canis,
obtenção de pedigree, transferência de propriedade,
homologação de títulos, participação
em exposições etc. Porque não destinar parte
desta verba para as entidades cinolófilas?
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Criador On-line:
O que você recomendaria para quem está iniciando
na criação do Dogue Brasileiro?
Daniel Tambelini: Em primeiro lugar, pensar muito
sobre o assunto, isso para qualquer raça. Depois, re-pensar.
Em seguida, procurar obter o máximo de informação
através de pesquisa e troca de informação
com outros criadores – isso será fácil. Finalmente,
estar ciente da filosofia que está por trás do Dogue
Brasileiro: cão de guarda efetivo, equilibrado e amigo
da família.
Criador On-line:
Faça suas considerações finais sobre a cinofilia
no Brasil.
Daniel Tambelini: A cinofilia brasileira, em
certos aspectos, vem alcançando um bom padrão, inclusive
com reconhecimento internacional, porém, ainda há
muito o que melhorar. Principalmente, ela deveria tentar resgatar
o propósito para o qual as raças foram desenvolvidas.
Penso que este é o caminho que o Brasil poderia indicar
para o mundo.
Criador
On-line: Gostaria de acrescentar mais alguma informação?
Eu gostaria de aproveitar para acrescentar que
o Dogue Brasileiro possui um clube chamado Bull Boxer Clube, responsável
pelo registro de todos os exemplares nascidos e pelo julgamento
do temperamento dos cães. Esse clube já possui um
núcleo em Mato Grosso do Sul e um outro em formação
no Rio de Janeiro. Esses núcleos são responsáveis
pelo mapeamento das ninhadas e seus respectivos registros e, futuramente,
pela avaliação do temperamento, também. Sem
o aval deste clube, não é possível a homologação
de títulos para os exemplares que freqüentam exposições.
Isso garante a qualidade da raça e a manutenção
de um trabalho sério e homogêneo por parte dos criadores
e serve como fonte de informação para os futuros
criadores e/ou proprietários.